Pablo Neruda

FICA PROIBIDO


Fica proibido chorar sem aprender, levantar um dia sem saber o que fazer ter medo de suas lembranças.
Fica proibido não sorrir aos problemas, não lutar pelo que você quer abandonar tudo por medo, não converter em realidade seus sonhos.
Fica proibido não demonstrar seu amor, fazer que alguém pague suas dúvidas e mau humor
.
Fica proibido deixar seus amigos, não tentar compreender o que viveram juntos, chamá-los apenas quando você necessita.
Fica proibido não ser você perante os demais, fingir ante as pessoas que no lhe importam,fazer graça para que se lembrem de você, esquecer as pessoas que lhe querem.
Fica proibido não fazer as coisas por você mesmo,não crer em Deus e fazer seu destino,ter medo da vida e dos seus compromissos,não viver cada dia como se fosse o último suspiro.

Fica proibido ter saudades de alguém sem ficar contente, esquecer seus olhos, seu sorriso, tudo porque seus caminhos deixaram de abraçar-se, esquecer seu passado e pagar-lhe com seu presente.
Fica proibido não tentar compreender as pessoas, pensar que suas vidas valem mais que a sua, não saber que cada um tem seu caminho e sua felicidade.
Fica proibido não crer em sua história, deixar de agradecer a Deus por sua vida, não compreender que o que a vida lhe dá, também lhe tira.
Fica proibido não buscar sua felicidade, não viver sua vida com uma atitude positiva, não pensar que podemos ser melhores, não sentir que sem você este mundo não seria igual.


(Pablo Neruda)

terça-feira, 30 de junho de 2009

Orgulho de ser "Matuto"

EU QUERO MEU SERTÃO DE VOLTA
Por Anselmo Alves*

Nos últimos dez anos tenho viajado frequentemente pelo sertão de Pernambuco, e assistido, não sem revolta, a um processo cruel de desconstrução da cultura sertaneja com conivência da maioria das prefeituras e rádios do interior.
Em todos os espaços de convivência, praças, bares e na quase maioria dos shows, o que se escuta é música de péssima qualidade, que não raro, desqualifica e 'coisifica' a mulher e embrutece o homem.

O que adianta as campanhas bem intencionadas do Governo Federal contra o alcoolismo e a prostituição infantil, quando a população canta: 'beber, cair e levantar' ou 'dinheiro na mão e calcinha no chão'.
O que adianta o Governo Federal criar novas delegacias da mulher se elas próprias também cantam e rebolam ao som de letras que incitam à violência sexual? O que dizer de homens que se divertem cantando: 'vou soltar uma bomba no cabaré e vai ser pedaço de puta pra todo lado'. Será que são esses trogloditas que chegam em casa depois de beber, cair e levantar e surram suas mulheres e abusam de suas filhas e enteadas?

Por onde andam as mulheres que fizeram o movimento feminista, tão atuante nos anos 70 e 80, que não reagem contra essa onda musical grosseira e violenta? Se fazem alguma coisa, tem sido de forma muito discreta, pois leio os três jornais de maior circulação no Estado todos os dias, e nada encontro que questione tamanha barbárie. E boa parte dos meios de comunicação são coniventes, pois existe muito dinheiro e interesses envolvidos na disseminação dessas músicas de baixa qualidade.

E não pensem que essa avalanche de mediocridade atinge apenas os menos favorecidos da base de nossa pirâmide social, e com menor grau de instrução escolar. Cansei de ver (e ouvir) jovens que estacionam onde bem entendem, escancaram a mala de seus carros exibindo, como pavões emplumados, seus moderníssimos equipamentos de som e vídeo na execução exageradamente alta dos cd's e dvd's dessas bandas que se dizem de forró eletrônico.

O que fazem os promotores de justiça, juízes, delegados que não coíbem, dentro de suas áreas de atuação, esses abusos?

Quando Luiz Gonzaga e seus grandes parceiros, Humberto Teixeira e Zé Dantas criaram o forró, não imaginavam que depois de suas mortes essas bandas que hoje se multiplicam pelo Brasil praticassem um estelionato poético ao usarem
o nome de forró para a música que fazem.
O que esses conjuntos musicais praticam não é forró! O forró é inspirado na matriz poética do sertanejo; eles se inspiram numa matriz sexual chula! O forró é uma dança alegre e sensual; eles exibem uma coreografia explicitamente sexual!
O forró é um gênero musical que agrega vários ritmos como o xote, o baião, o xaxado; eles criaram uma única pancada musical, que em absoluto, não corresponde aos ritmos do forró! E se apresentam como bandas de forró eletrônico! Na verdade, Elba Ramalho e o próprio Gonzaga já faziam o verdadeiro forró eletrônico, de qualidade, nos anos 80.

Em contrapartida, o movimento do forró pé-de-serra deixa a desejar na produção de um forró de qualidade. Na maioria das vezes as letras são pouco criativas; tornaram-se reféns de uma mesma temática! Os arranjos executados são parecidos! Pouco se pesquisa no valioso e grande arquivo 'gonzaguiano'. A qualidade técnica e visual da maioria dos cds e dvds também deixa a desejar, e falta uma produção mais cuidadosa para as apresentações em geral.

Da dança da garrafa de Carla Perez até os dias de hoje formou-se uma geração que se acostumou com o lixo musical! Não, meus amigos: não é conservadorismo, nem saudosismo! Mas não é possível o novo sem os alicerces do velho!
Que o digam Chico Science e o Cordel do Fogo Encantado, que inspirados nas nossas matrizes musicais, criaram um novo som para o mundo!

Não é possível qualidade de vida plena com mediocridade cultural, intolerância, incitamento à violência sexual e ao alcoolismo!
Escrevendo estas linhas, recordo de minha infância em Serra Talhada, ouvindo o mestre Moacir Santos e meu querido tio Edésio em seus encontros musicais, cada um com o seu sax em verdadeiros diálogos poéticos! Hoje são estrelas no céu de Pajeú das Flores! Eu quero o meu sertão de volta!

*Anselmo Alves é jornalista, cineasta, sertanejo de Serra Talhada/PE, com larga compreensão do Nordeste.
P.S. Faço minhas as palavras do conterrâneo.

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