Pablo Neruda

FICA PROIBIDO


Fica proibido chorar sem aprender, levantar um dia sem saber o que fazer ter medo de suas lembranças.
Fica proibido não sorrir aos problemas, não lutar pelo que você quer abandonar tudo por medo, não converter em realidade seus sonhos.
Fica proibido não demonstrar seu amor, fazer que alguém pague suas dúvidas e mau humor
.
Fica proibido deixar seus amigos, não tentar compreender o que viveram juntos, chamá-los apenas quando você necessita.
Fica proibido não ser você perante os demais, fingir ante as pessoas que no lhe importam,fazer graça para que se lembrem de você, esquecer as pessoas que lhe querem.
Fica proibido não fazer as coisas por você mesmo,não crer em Deus e fazer seu destino,ter medo da vida e dos seus compromissos,não viver cada dia como se fosse o último suspiro.

Fica proibido ter saudades de alguém sem ficar contente, esquecer seus olhos, seu sorriso, tudo porque seus caminhos deixaram de abraçar-se, esquecer seu passado e pagar-lhe com seu presente.
Fica proibido não tentar compreender as pessoas, pensar que suas vidas valem mais que a sua, não saber que cada um tem seu caminho e sua felicidade.
Fica proibido não crer em sua história, deixar de agradecer a Deus por sua vida, não compreender que o que a vida lhe dá, também lhe tira.
Fica proibido não buscar sua felicidade, não viver sua vida com uma atitude positiva, não pensar que podemos ser melhores, não sentir que sem você este mundo não seria igual.


(Pablo Neruda)

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Memorial Profª. Josy

MEMORIAL



O mundo das letras sempre foi algo que me exerceu grandioso fascínio. Fui a primeira filha de um casal de semi-analfabetos, que como a maioria dos pais de outras gerações, principalmente as menos abastadas, não tiveram ou puderam freqüentar um espaço escolar no seu tempo previsto. Assim sendo, foi depositada em mim, as expectativas de um futuro diferente, de um “final mais feliz”.

Por volta dos 5 anos comecei a frequentar um espaço público voltado para educação infantil denominado por Centro Social Urbano (CSU). Foi lá que tive basicamente os meus primeiros contatos com os livros, as letras, com as brincadeiras... Recordo-me o encantamento com tudo, com aquele “novo mundo” que se apresentava!

Minha primeira professora, uma senhora, que na época devia ter uns 40 anos, era dona de um sorriso e paciência inesquecíveis, visto que, um ou outro sempre queria dar uma escapadinha, ausentando-se da sala ou mesmo da escola, ora em virtude da distração, ora por conta das brechas que incentivavam tal prática. Eu sempre muito tímida, nem de longe pensava em tal artimanha.

Lá tive acesso ao mundo letrado, mas foi com D. Maria Evangelista, uma professora autônoma, que consolidei o processo de alfabetização, da forma mais tradicional possível. Com ela juntei os pequenos pedaços e o B com A começou a fazer sentido na minha vida.

Quando então fui matriculada no ensino regular, aos 7 anos, na etapa que conhecíamos como “o Pré” – uma fase anterior à 1ª série (a alfabetização nos moldes atuais) - logo me destaquei e assim não tardou para ser transferida para a série seguinte. Lembro-me do orgulho de meus pais ao relatar tal feito aos parentes e amigos.

A escola também pública que freqüentei da 1ª a 4ª série fica situada no bairro em que moro. Por assim ser, os nossos vizinhos eram também os colegas de classe, fato que despertava não só o sentimento de coleguismo, assim como as competições. Contudo, uma competição saudável; recordo-me de 2 ou 3 deles, com os quais disputava as melhores notas da turma, porém a matemática sempre acabava me passando uma rasteira, ou pior, me tornava alvo da tão temida palmatória. Como sofri até “aprender” a tabuada!

No “preidinho” – assim chamávamos intimamente a Escola Municipal Ludugero Costa – não havia biblioteca, nem tínhamos livros didáticos, tampouco paradidáticos. Se aparecia algum livro, certamente era emprestado de algum primo ou vizinho que estava anos à frente nos estudos. Foi o caso da leitura do livro “O menino do dedo verde”, que despertou meu interesse ao vê-lo na casa de uma amiga prestimosa da minha mãe. O título manifestou em mim um desejo, uma curiosidade de saber o que havia por trás daquela capa, afinal jamais vi alguém com o “dedo verde”, como assim propagava a capa. Devorei-o em uma tarde!

E daí por diante devorava tudo que aparecia pela frente, gibis, revistas velhas, jornais antigos, nada passava despercebido do meu olhar voraz.

Durante o ensino fundamental II – antigo ginásio – não tenho lembranças de leituras significativas, até o no 2º grau – atual ensino médio – através da literatura com o saudoso Profº Leônidas Nascimento, ter acesso a obras literárias e ao trabalho magnífico do baiano Jorge Amado, autor que tive a oportunidade de conhecer a fundo e me apaixonar. Os seminários de Literatura eram um show a parte!

Mas foi na segunda faculdade que cursei (Letras) – anteriormente fiz Pedagogia – que conheci e me apaixonei por uma das figuras mais fascinantes e marcantes de um tempo: Florbela Espanca, poetisa portuguesa, apresentada a nós pela tão estimada Profª. Maria Clara. Que além de nos mostrar o trabalho inusitado de tal poetisa, nos encantou com as obras de outro português, Camilo Castelo Branco e seus trabalhos “Amor de Perdição” e “Amor de Salvação”, cujo trabalho era até então desconhecido da maioria. Foram maravilhosos momentos de prazer pela Literatura Portuguesa em suas inigualáveis aulas.

Mesmo gostando de ler, me informar, adiei durante 11 anos assumir a profissão na qual hoje me encontro. Apesar de não faltar incentivo por parte da família e amigos, que atestavam que “eu já tinha jeito” de professora. Talvez perpassasse pela situação do ensino, pela desvalorização aos profissionais da área, enfim, “desculpas” não faltaram até que resolvi fazer o concurso do estado de Pernambuco, onde fui aprovada e convocada a mudar o direcionamento da minha vida, e assim encarar e tentar mudar a realidade na qual nos encontramos, quiçá ajudar a encontrar a trilha que conduz ao encantamento e satisfação na aprendizagem.

Nos dias atuais temos uma escola um tanto contraditória. Um ensino fundamental I que prioriza em suas atividades semanais a leitura de paradidáticos, um fundamental II que não dá seqüência a esse trabalho e um ensino médio em que pouco ou quase nada se lê.

Em atividade de pesquisa monográfica recente, pude constatar a real situação de leitura no ambiente escolar. O estudo de texto é o principal material de prática de leitura (isso no ensino fundamental II), a leitura por prazer, fruição, desvinculada das fichas de resumo, é raramente encontrada nesses espaços de aprendizagem.

A leitura como prática de oralidade é enfatizada em momentos específicos de treino oral e posterior correção. Por outro lado, a escrita é direcionada somente ao destinatário (o professor), em práticas muitas vezes, evasivas, desprazerosas e sem função social significativa.

Analisando tais constatações, o que se percebe é que a leitura com todo o encantamento que exerce, ainda está presente nas nossas salas. Já a escrita, realizada em muitos casos sem funções sociais que a “resignifiquem” tem cada vez mais perdido espaço, em meio aos avanços tecnológicos, às mudanças e a importância atribuída à ortografia oficial. Enfim, escrever, reescrever e até mesmo pensar, tornaram-se ações desprovidas de prazer e pesarosas para o aluno.

profajosy@gmail.com

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